A Faculdade Santa Marcelina decidiu expulsar 12 alunos de medicina que foram fotografados ao lado de um “bandeirão” com a frase “entra porra, escorre sangue” em março, durante um evento esportivo universitário. A expressão tem conotação violenta e remete ao crime de estupro.
Segundo a faculdade, “outros 11 estudantes receberam sanções regimentais que configuram suspensões e outras medidas disciplinares”.
Em nota divulgada na noite desta segunda-feira no Instagram do estabelecimento, a Santa Marcelina informa que a decisão, em primeira instância, foi tomada após “sindicâncias instauradas no dia 21 de março de 2025 em decorrência dos fatos ocorridos em 15 de março, com integrantes da Associação Atlética Acadêmica e relacionados a torneio esportivo”.
Ainda segundo o texto, a “Associação Atlética Acadêmica será mantida interditada por tempo indeterminado”
Atléticas são coletivos formados por universitários a fim de promover e participar de atividades esportivas e sociais, como campeonatos e festas.
Confira a íntegra da nota:
“A Faculdade Santa Marcelina comunica que as sindicâncias instauradas no dia 21 de março de 2025 em decorrência dos fatos ocorridos em 15 de março, com integrantes da Associação Atlética Acadêmica e relacionados a torneio esportivo, foram apreciadas em primeira instância nesta segunda-feira (28), sendo que 12 (doze) estudantes foram, nesta data, desligados da Instituição, e outros 11 (onze) estudantes receberam sanções regimentais que configuram suspensões e outras medidas disciplinares.
Além disso, a Associação Atlética Acadêmica será mantida interditada por tempo indeterminado.
Comprometida com a transparência, os princípios éticos e morais, a dignidade social, acadêmica e a legislação vigente, a Faculdade Santa Marcelina reafirma sua postura proativa e colaborativa em relação ao assunto, perante as autoridades competentes.”
Investigação
Em março, a Polícia Civil havia identificado e iniciado a coleta de depoimentos de alunos que posaram com a faixa. Ao menos 24 estudantes aparecem em imagens ao lado dela.
Na terça (18), após denúncia revelada pelo g1, a autoridade policial instaurou um inquérito policial para apurar o caso.
Além da sindicância interna, a faculdade informou, na época, ter comunicado os fatos ao Ministério Público.
Entenda o caso
Em 17 de março, o caso foi alvo de protesto por parte do Coletivo Francisca — grupo feminista formado por alunas e ex-alunas de medicina da faculdade, que encaminhou uma denúncia formal à direção do curso.
A frase faz parte de um antigo “hino” da atlética da faculdade, que foi banido em 2017 e contém ainda mais referências de cunho sexual e machista. (Veja abaixo.)
“Além de extremamente violento, e com diversas alusões ao crime de estupro, o hino até mesmo faz menção a relações sexuais com membras da igreja que compõe o corpo docente da faculdade (‘vem irmãzinha, pega no meu [censurado]’), denuncia o coletivo.
No documento, as integrantes do coletivo apontam que o ato pode ser entendido como apologia ao estupro e cobra medidas firmes da universidade em relação aos envolvidos.
Horas após a manifestação do Coletivo Francisca, a Faculdade Santa Marcelina utilizou a ferramenta de story no Instagram para se posicionar. Em nota, a instituição reconheceu a participação de alunos do curso no episódio e informou que iniciou um procedimento de sindicância interna para apuração dos fatos. (Leia íntegra abaixo.)
A faculdade garantiu que os alunos responsáveis pelos atos serão penalizados. “Entre as punições, estão advertências verbais e escritas, suspensão e até expulsão da faculdade”, diz a nota.
‘Cansada dessa cultura do estupro dentro da medicina’
Em entrevista ao g1, uma ex-aluna da faculdade, que preferiu não se identificar, disse que está “cansada dessa cultura do estupro que acontece dentro da medicina”.
“Esse hino foi revivido, cantado, e estava estampando uma bandeira que foi erguida pelos alunos após uma vitória no jogo de handebol masculino contra a Uninove. Gostaria de salientar que a atlética estava inspecionando todas as bandeiras que entravam”, afirmou.
“A cultura do estupro é algo muito presente nas faculdades de medicina”, salientou. “Hinos que degradam a mulher, ritos de passagem que incluem juramentos horríveis, trotes degradantes, em que calouras têm que ir limpar a casa e lavar a louça dos veteranos, são comuns em todas as faculdades de medicina”.
Segundo ela, a atuação do coletivo foi fundamental para que diversos desses comportamentos fossem banidos da faculdade.
“Mas o episódio de sábado nos faz questionar até quando isso vai acontecer. Pois algo banido há 8 anos voltou à tona agora, sendo que o curso de medicina dura 6”, lamentou.
Hino banido
Hinos e cânticos de atléticas são comumente usados em eventos esportivos com o intuito de provocar ou constranger equipes de universidades adversárias. Normalmente, as composições têm insultos de cunho sexual, homofóbico, machista e elitista.
Objeto da manifestação do coletivo, o “hino” da atlética de medicina da Santa Marcelina já havia sido questionado pelo grupo feminista em 2017.
À época, segundo a ex-aluna, após grande repercussão, “a coordenação teve que agir, deu advertência para os responsáveis, e o hino foi banido”.
Além do trecho que apareceu escrito no bandeirão durante o evento de handebol, a letra tem expressões como:
“Se no fundo eu não relo
As borda eu arregaço
Med Santa Marcelina
Arrancando seu cabaço”
“Se no cu minha piroca
Na buceta ou nas teta
Entra porra e sai sangue
Tu gritando igual capeta”
“Vai, medicina, bota pra fuder
Somos todos loucos e seu cu vamos comer”

O que diz a Faculdade Santa Marcelina
Em nota publicada no Instagram, a faculdade disse:
“A Faculdade Santa Marcelina se manifesta veementemente contrária ao ocorrido no último dia 15 de fevereiro, em uma competição esportiva que contou com a participação de estudantes do curso de Medicina, integrantes da Associação Atlética Acadêmica (AAAPV).
A instituição esclarece que, no ato de matrícula, o aluno aceita um compromisso formal com a faculdade, de respeito aos seus princípios éticos e morais, à dignidade acadêmica e à legislação vigente. Atitudes como essa constituem agravo à instituição e sua tradição, missão e valores e também à sociedade como um todo.
Nesse sentido, a Faculdade Santa Marcelina já iniciou um procedimento de sindicância interna para apuração dos fatos e os alunos da instituição responsáveis pelos atos (que ocorreram fora de suas dependências) serão penalizados conforme os princípios estabelecidos e a gravidade da infração. Entre as punições estão advertências verbais e escritas, suspensão e até desligamento (expulsão) da faculdade.”
Fonte: g1